Quem não é visto, não é lembrado, num é verdade? Claro que sim! Esta frase é um clichê bastante popular e é a maior desculpa publicitária de todos os tempos. Uma expressão, que em mãos erradas, pode ser um verdadeiro desastre. Vou falar de algo que eu chamei carinhosamente de estratégia “compre baton”, que nada mais é do que uma espécie de marketing de insistência. Vai vendo.
A tática é simples e funciona mais ou menos assim oh: “Ei! Olha pra mim, olha pra mim, olha pra mim…”, “Estou aqui, estou aqui, estou aqui…”, “Compre baton, Compre baton, compre baton… ” Chato né? Mas acredite, ainda tem muita gente usando essa estratégia.
Se você tem pelo menos 30 anos, acredito que vai se lembrar que na década de 90, a Chocolates Garoto lançou um comercial, onde uma menina interpretando uma ilusionista, “hipnotizava” as donas de casa com um baton em um pêndulo, repetindo insistentemente a frase “compre baton, compre baton, o seu filho merece baton”.
Não confunda persistir com insistir
Esta propaganda da Garoto em si, não é o problema. Ela funcionou muito bem na época, apesar de mais tarde ter sido proibida por ter um discurso totalmente direcionado às crianças, mas isso é outra coisa.
O fato é que esse plano pode ser nocivo para a imagem de uma marca ou para a imagem dos seus produtos ou serviços. A tentativa de fixar algo na mente das pessoas ou de convencer, pelo método da insistência, pode surtir um efeito negativo.
Devemos nos perguntar, não só, se queremos ser lembrados e sim, como queremos ser lembrados.
Como surgiu a frase quem não é visto, não é lembrado?
Só para contextualizar ainda mais nosso bate papo, o primeiro homem a usar essa expressão foi René Descartes. Filósofo, físico e matemático francês, Renatus Cartesius, como também era conhecido, foi denominado pai da filosofia e da matemática moderna e criador da geometria analítica e do sistema de coordenadas, que mais tarde levou o seu nome…Para por aqui! Mano! O cara era físico!
Tenho quase certeza que ele estava teorizando sobre as leis da física e não filosofando, quando pensou nessa frase. Mais ou menos assim oh: Toda ação tem uma reação, então a ação de ser visto provoca a reação de ser lembrado (kkkkkkk).
Então como essa frase foi parar na publicidade?? (melhor nem saber)
Isso está acontecendo todos os dias, quer ver só?
Eu, inevitavelmente, quando penso em hotel, o que vem a mente? Trivago! Mas o sentimento de ver aquele camarada de 5 em 5 min na TV é uma mistura de amor e ranço pela marca. Ainda mais quando eles emendam uma propaganda na outra, com a seguinte frase entre elas: “Pera que ainda não acabou…“. Eu acho que isso é uma clara admissão do tipo: “Sabemos que somos chatos e insistentes, mas aguenta firme aí que tem mais!“
Quer outro exemplo? Eu não consigo ficar sem o Spotify, mas cara! Ou você assina ou você assina. Ficar ouvindo anúncios a cada música é perturbador e irritante. A estratégia, apesar de desumana, funciona (pelo menos comigo), mas será que isso não causa algum tipo de prejuízo à imagem da marca e ao sentimento que temos por ela, apesar da qualidade do serviço?
Isso me lembra quando eu era criança e insistia muito por uma coisa que queria. Minha mãe me dizia que eu estava querendo vencer ela pelo cansaço rs. Porém, no meu caso, nunca funcionava 🙁
E aqueles games maneiros que baixamos no celular, que ficam nos mostrando anúncios com uma frequência absurda para nos forçar a clicar no botão “jogue sem anúncios” e comprar a versão sem eles. Qual a possibilidade de você comprar ou desinstalar esse app?
Se olharmos para um passado pouco distante, vamos lembrar de outros exemplos de marcas que são lembradas até hoje, como Casas Bahia e seu simpático garoto propaganda (que incrivelmente voltou muitos anos depois) e as inúmeras vezes que tivemos nossa programação interrompida com a seguinte frase: “Chega disso, vamos falar de TekPix”. Dentre outras mais.
Ainda bem que o Marketing e a Publicidade evoluíram né?
Ha muito, muito tempo atrás, na época da Revolução Industrial com as produções em massa no auge, o foco era o produto. Bastava dizer que ele existia para vender, até porque a concorrência era praticamente zero. Esse foi o surgimento do marketing, ou Marketing 1.0.
Depois, com o crescimento da informação e a evolução dos meios comunicação em massa, como a televisão por exemplo, a concorrência ficou mais evidente. Então surge o Marketing 2.0. O foco continuava sendo a exaltação do produto, mas agora era necessário destacar seus diferenciais para conseguir a preferência do consumidor.
Aos poucos fomos percebendo que estes consumidores eram mais do que meros compradores, e sim pessoas com objetivos, propósitos, valores, anseios e necessidades diferentes. Chegamos no Marketing 3.0. A necessidade agora é de humanizar a comunicação e o foco passa a ser o ser humano e suas experiências.
Finalmente e recém chegado, o Marketing 4.0 é uma grande evolução do seu antecessor. O foco no consumidor ficou ainda mais aprofundado. As novas tecnologias possibilitam medir e avaliar o comportamento e o consumo de conteúdos e serviços, deste indivíduo, em diversos meios digitais.
Agora, conhecendo melhor este cliente, o objetivo vai muito além de vender produtos ou serviços, é preciso gerar valor real para este consumidor. Ele precisa se sentir parte da marca e se identificar com os valores promovidos por ela.
Ou seja, apesar de alguns ainda insistirem no “Compre Baton”, o mercado foi percebendo que muito mais eficiente é dizer pro consumidor algo como: “Venha, sinta essa sensação maravilhosa e faça parte, você também, do universo Baton”.
Foco no produto x Foco no cliente.
Hotel? Trivago X Sua sede move a nossa.
E Você, também tem usado a técnica da insistência com seu cliente?
Saindo um pouco do universo de produtos e indo para o de serviços. Se você, assim como eu, é um profissional autônomo e precisa vender sua criatividade e/ou força de trabalho. Além de um bom marketing pessoal, você precisa conhecer seus concorrentes, definir bem suas estratégias de convencimento e persuasão e, principalmente, entender quem é o seu cliente, quais suas necessidades, anseios e expectativas.
Cuidado para não ser lembrado como o chato e cair nos mesmos erros que vimos neste artigo. Não seja insistente. Tire o foco de você e do seu serviço. Olhe para o seu cliente. Lembre-se que o centro das atenções é o indivíduo.
No mais, bons negócios e sucesso 🙂