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Investimento ou gasto: como diferenciar e usar dinheiro em seu benefício

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Um dos adjetivos que vem junto com meu nome em piadas dentro da minha família é o tal do mão-de-vaca. Desde criança sempre fui muito regulada com dinheiro, mesmo quando o dinheiro nem era meu. Até hoje me dá dor de cabeça quando um preço pula na minha frente e eu tenho que decidir se compro ou não, se é investimento ou gasto.

Pra você ter uma ideia da minha situação, quando minha mãe me pedia pra ir ao mercado com uma listinha pequena de coisas, eu gastava 3 vezes mais tempo do que qualquer outra pessoa gastaria pra voltar com todos os ítens (o que era um problema se fosse beirando a hora do almoço e a mãe tivesse precisando de algum ingrediente da receita principal).

Mas a culpa não era minha. A culpa era das três padarias e dos dois supermercados que ficavam na mesma rua, entre 4 ou 5 quarteirões. Eu não conseguia aceitar a ideia de comprar tudo num lugar só se um dos ítens era mais barato na loja do outro lado da rua. Então o que eu fazia era ir em todas, ver o que era mais em conta onde, e voltar comprando os produtos mais baratos. Naquela época não tinha Google pra me ajudar com uma média de preços e eu tinha muita perna pra gastar, então só ia.

Mas daí eu cresci e me deparei com dois dilemas:

Qualidade ou quantidade; investimento ou gasto?

O primeiro não demorou muito pra eu resolver. Lembro de uma vez em que fui comprar um tênis e decidi pelo mais barato que tinha numa lojinha de presentes perto de casa. De velcro e na cor verde escuro, não era a coisa mais linda do mundo, mas eu não queria que minha mãe gastasse muito dinheiro comigo (é, eu era uma criança estranha). Compramos o tênis e eu fui pra escola no próximo dia calçando o bendito. Não demorou muito e eu percebi que a sola tava descolando. Dava pra ver aquela cola amarelada de sapateiro entre as camadas do tênis. Eu comecei a desesperar e botei o máximo de cola branca escolar possível pra consertar aquele trem. Obviamente não funcionou e eu cheguei em casa quase chorando de medo da minha mãe achar que eu tinha estragado o tênis novinho.

Era defeito de fábrica. Nem se eu quisesse, na altura dos meus 9 anos de idade, eu conseguiria ter arregaçado um tênis novo de boa qualidade em um dia de escola sem educação física. A gente foi na loja e trocou por um par novo. Ali eu entendi que o barato às vezes pode sair caro. Não quer dizer que priorizei qualidade a quantidade (ou baratíce) dali pra frente, mas hoje reconheço que é necessário analisar bem o objetivo final antes de se optar pelo menor preço.

Mas o segundo dilema às vezes ainda me pega. É o dilema do investimento ou gasto.

Nesse caso o assunto é mais delicado porque demanda uma percepção mais ampla e uma visão Thundercat além do alcance.

Pra explicar melhor, vou começar definindo ambas as palavras. De acordo com o dicionário Michaelis:

Gasto:

sm

1 Ato ou efeito de gastar; gastamento: “Na embarcação, fora, os mesmos movimentos, o mesmo gasto de forças […]” (JR).

2 POR EXT Aquilo que se despendeu em dinheiro; despesa, dispêndio: No mês passado, os gastos superaram a receita familiar.

3 Desgaste em consequência do uso ou da ação do tempo; deterioração: O gasto das peças, após anos sem reposição, era inevitável.

Como um substantivo, e até como adjetivo, a palavra “gasto” denota desgaste, algo que se perde e que não tem recuperação. Pensa, por exemplo, no gasto da sola do seu sapato. Por mais que você tente fazer durar pra sempre, não vai acontecer. Experiência própria. Uma vez, enquanto era missionária, decidi comprar um par de sapatilhas Crocs. Era a melhor solução pro que eu precisava. Eu andava o dia inteiro e todos as sapatilhas que tinha usado até então não duraram mais de um mês, cada par. Sem contar que eu tava em Curitiba/PR e pra fazer sol de manhã e acabar o mundo em água de tarde era mais certo do que Sílvio Santos no domingo. Sapatilha de pano, couro, ou qualquer material permeável era o maior pesadelo dos meus pés que teriam que aguentar as bolhas no final do dia. Crocs era top. Material levinho, super confortável e, se molhar, é só enxugar e tá novo.

O problema era o preço. Meu serviço missionário era voluntário. Quer dizer que eu tava lá com um orçamento mais apertado que estagiário de meio período no ensino médio. Cada par de sapatilha era mais de R$120. Tinha sapatilha bonitinha de 20 conto na loja do lado. Mas eu sabia do destino que ela teria se eu escolhesse a baratinha. Eu terminei comprando a Crocs, que me durou uns 3 ou 4 meses e nunca me deu bolha. E teria durado mais se eu não tivesse literalmente feito um buraco na sola de tanto andar. Eu até tentei gambiarrar e usei uma lâmina de plástico com fita isolante pra andar mais uns dias sem ter que ralar o pé no asfalto. Mas minha boa sapatilha Crocs morreu. De saudades, comprei outra uns meses atrás que vai durar pra sempre agora que eu só ando dentro de casa haha

Mas resumindo: gasto é dinheiro que não volta. Comprou, já era. Você vai usufruir os benefícios do que foi comprado por um curto tempo. Mas e investimento? De acordo com o mesmo dicionário:

Investimento

sm

1 Ato ou efeito de investir.

2 ECON Aplicação de capital (em títulos, imóveis etc.) com o objetivo de obter lucros.

Investimento, ao contrário de gasto, é aquele dinheiro utilizado que vai te trazer algum retorno. Muitas vezes esse retorno é mais dinheiro. Nessas horas ser mão-de-vaca é completamente contraprodutivo porque ao invés de multiplicar o dinheiro, você escolheu ficar com a mesma quantidade. Sabe a parábola dos 10 talentos que Jesus contou na Bíblia?! Não, né? Bom momento pra eu te lembrar de ler escrituras! os ensinamentos que tem lá se aplicam a todos os aspectos da sua vida, vai por mim.

Mas então, os 10 talentos. Na história, uma camarada rico lá tava pra sair de viagem e deixou o seu dinheiro sob a responsabilidade de 3 empregados. Pra um, o dono deu 5 moedas (ou talentos, como é dito na bíblia), pra outro 2 e pro terceiro, uma moeda. O primeiro e o segundo trabalharam e dobraram o valor daquele dinheiro enquanto o chefe tava fora. O terceiro, sabendo que o chefe era muito certo com as coisas, ficou com medo de fazer merda e enterrou a moeda pra quando o dono chegasse ele tivesse exatamente aquilo pra devolver. O final da história é interessante e diz o seguinte:

Mateus 25

26  Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei;

27  Por isso te cumpria dar o meu dinheiro aos banqueiros, e quando eu viesse, receberia o meu com os juros.

28  Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos.

Essa escritura tem muito significado espiritual, mas vamos aplicá-la ao mundo físico. Se você enterrar hoje R$100, quanto você vai ter daqui a 10 anos? Se você der sorte da economia não capotar e a moeda não mudar, você vai ter exatos R$100. Isso não quer dizer que esses R$100 vão ter o mesmo valor de compra de hoje. A probabilidade é que ele compre menos coisas em 10 anos. Mas se você pegar esse dinheiro e investir naquele curso de ilustração que você viu online, que resultado você teria? Bom, a gente pode imaginar que, com o novo conhecimento adquirido, você tenha a chance de conseguir novos clientes e novos projetos. Esses vão te ajudar a aprimorar suas técnicas e ampliar seu portfólio. O preço do seu serviço vai subir e a cada nova demanda, você vai fazer mais dinheiro do que antes. Usar R$100 nesse curso é investimento ou gasto?

E isso se aplica para novos equipamentos, conhecimento, experiências, cursos, fóruns, material de pesquisa, e eu diria até viagens. Existem muitas maneiras de fazer o seu dinheiro te dar um retorno maior do que você teria se simplesmente gastasse com um bem finito que não agrega valor ao seu trabalho.

Por favor, eu também não sou idiota pra dizer que você deve priorizar seu ambiente e equipamentos de trabalho acima de qualquer outra coisa. É preciso analisar sua vida, fazer um planejamento financeiro pessoal e ajustar valores de acordo com o que te serve. Mas o bottom line disso tudo (olha ae! Investi em inglês e vira e mexe as expressões que vem na cabeça primeiro nem são mais em português) é que você não precisa ter medo nem mão-de-vaquice quando o assunto é investimento. Eu particularmente sou fã de conhecimento agregado. Adoro aprender umas parada aleatória que às vezes nem vão me trazer dinheiro. Mas se tem três coisas que eu aprendi são:

  1. Conhecimento não ocupa espaço;
  2. Você pode perder tudo, podem te tirar tudo, menos seu conhecimento;
  3. Ainda que você perca tudo, com o conhecimento que você adquirir, você pode se reconstruir e ter tudo o que perdeu de volta.

Então da próxima vez que uma oportunidade surgir na sua frente, seja de investir em um novo curso, um material aprimorado ou novos equipamentos, lembre-se da diferença entre investimento e gasto. Se vai te trazer benefícios, ainda que a longo-prazo, vale a pena!

Agora sai daqui e vai ler a Bíblia!

Ósculo na testa 😉

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