Colaborar é um termo presente em nossos dias e cada vez mais em nossas ações. Criar de maneira conjunta, conectando propósitos e objetivos comuns. Muitas obras e manifestações artísticas se renderam a essa maneira dinâmica de multiplicar ideias, intenções e conceitos. A música ‘A Song for Japan’ é um bom exemplo dessa potência criativa, que pode inspirar muitas áreas, principalmente a de marketing. Vamos entender o porquê!
Colaborar é mais que ajudar ou auxiliar, é mais que desenvolver uma ideia de forma individual. É co-participar, é criar junto de fato. É se render às contribuições que outras pessoas podem dar, compreendendo que os resultados ganham percepções, olhares e muito mais energia. Mais do que isso: gera um sentimento de pertença, de conexão com outra realidade, que embora esteja em qualquer lugar do mundo é capaz de me envolver para uma ação.
A Song For Japan é uma obra musical dedicada às vítimas do Tsunami, que ocorreu no leste do Japão em 2011. O movimento foi iniciado por trombonistas japoneses que viviam fora do país na época. A composição foi criada originalmente pelo famoso trombonista belga, Steven Verhelst, que abraçou o projeto e a escreveu para um quarteto de trombones.
Mas o projeto foi aberto na internet para músicos profissionais, arranjadores e amantes da música, que pelos quatro cantos do mundo, fizeram as suas contribuições. O resultado foi a criação, recriação e execução da obra para várias formações de pequenos ou grandes grupos como orquestras, que apresentaram a obra exaustivamente, para levantar fundos e ajudar a reerguer o país devastado pelas ondas gigantes. O movimento foi um abraço coletivo mundial em apoio ao povo japonês.
Até hoje a obra é tocada e relembrada em memória às vítimas. O fato chocou o mundo de forma impactante por ser considerada uma das maiores catástrofes da história humana. No mês de julho deste ano, a Orquestra Jovem de Sopros e Percussão da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) a incluiu em seu programa de concerto.
Ouça de olhos fechados um trecho da obra para fazer uma imersão neste universo colaborativo, que envolveu tantas pessoas em um mesmo propósito:
https://www.facebook.com/GruposSinfonicosFames/videos/738452989824193/
Como pensar esse universo para o marketing?
A comunicação digital promoveu mudanças incríveis na forma de pensar e agir das empresas e consumidores. Mudou a forma como nos relacionamos, compramos, nos divertimos e nos manifestamos.
Estamos na era do Marketing 4.0, mas muitas coisas evoluíram principalmente nos últimos tempos. É importante retomarmos algumas práticas para compreender o que não se encaixa mais em nossos dias. Toda a evolução teve as suas contribuições, embora algumas empresas ainda insistam em manter-se fincada sobre as suas bases originais – e quantas já vimos morrer por não se antecipar ao novo, por não estar abertas às transformações!
No Marketing 1.0, o consumidor não tinha opção. Ficava satisfeito com o único modelo de carro preto que existia. A bola da vez era o produto e ponto. Palavras como segmentação de mercado e perfis de público não existiam no dicionário dos negócios. Logo, as novidades não se baseavam em gostos, preferências ou dores das pessoas. Bastava padronização, alta produção e redução dos custos em série.
O Marketing 2.0 começou a se atentar sobre os nichos e sobre as características dos consumidores, de acordo com as suas necessidades e desejos. Os produtos se diversificaram para públicos diversos. Nessa época surgiu também o Sistema de Atendimento ao Cliente (SAC). A primeira empresa a adotá-lo foi a Nestlé, sabia? Em 2010, o SAC da empresa comemorou 50 anos, inovando no atendimento via SMS.
O Marketing 3.0 trouxe mais novidades, seguindo as transformações dos consumidores, que passaram a ser cada vez mais ouvidos no processo de criação e percepção sobre as marcas. Qualidade era importante, mas não o principal diferencial. Porque o consumidor já queria se conectar com marcas que representassem valores e propósitos comuns aos seus. Era necessário alcançar algo mais sensível e subjetivo: o coração das pessoas – “share of heart”, trazendo à tona todo o envolvimento emocional necessário para se tomar uma decisão de compra ou a conexão com uma causa.
Quem não se lembra da campanha belíssima da Dove, que convidou mulheres para se descreverem sobre as percepções de suas próprias imagens? E depois outras pessoas as descrevem, surpreendendo os resultados em forma de desenhos feitos à mão? Foi quase uma campanha publicitária em forma de poesia, que encantou as mulheres como um sopro suave numa tarde de primavera. Isso é marketing colaborativo, é a verdade do consumidor sendo revelada de forma sutil e inspiradora.
A tabela abaixo facilita a nossa percepção sobre esses tempos e movimentos dessa obra incrível chamada mercado:
Marketing 1.0 | Marketing 2.0 | Marketing 3.0 | |
Modelo | Clássico.
Natureza tática |
Moderno.
Mais estratégico |
Contemporâneo.
Atinge o coração do cliente |
Décadas | 1950 e 1960 | 1970 e 1980 | 1990 e 2000 |
Momento
econômico |
Indústria manufatureira | Crise do petróleo da década de 1970. Durante a década de 1980, a economia permaneceu incerta (o crescimento econômico havia migrado, principalmente, para os países em desenvolvimento na Ásia). | Recessão, preocupações com o meio ambiente e sustentabilidade. |
Foco | Gestão do produto | Gestão do cliente | Gestão da marca |
Principais contribuições | Neil Borden cunhou a famosa expressão “mix de marketing” Jerome McCarthy apresentou os “4Ps do marketing” (produto, preço, promoção e ponto) | Consumidores se tornaram compradores mais inteligentes.
Outros Ps (pessoas, processo, provas físicas, opinião pública e poder político) se juntaram aos 4Ps originais. |
Novas mídias sociais, empowerment do consumidor, nova onda de tecnologia e globalização. |
Características | Vertical | Vertical | Horizontal
Cocriação, “comunização” e desenvolvimento da personalidade |
Fonte: Adaptação da tabela 2.1 “O futuro do marketing” (Kottler, Kartajaya e Setiawan, 2010, pag. 40)
E nos dias de hoje então, quando o Marketing 4.0 se abre para toda a força trazida pela tecnologia? Kotler trouxe mais essa percepção na obra publicada no ano passado. É o mercado combinando os meios de comunicação off-line, mais conhecida como ‘marketing tradicional’ com o ‘marketing digital’ para gerar mais confiança e colaboração pelos consumidores.
A palavra da vez é a integração – que não só rima como fala a mesma língua da colaboração. É chamada também, e não por acaso, de estratégias 360º. Estamos falando de neuromarketing e também de big data, de inteligência artificial e tantas possibilidades, que são capazes de identificar (digo, quase adivinhar) as nossas preferências pelos rastros e manifestações digitais que imprimimos na internet.
Até os modelos de negócio inovadores, chamadas de “startups”, que são empresas nascentes de inovação tecnológica e de impacto social, já revelam muito sobre esse novo momento que vivemos. De acordo com a pesquisa realizada pelo CB Insights, 42% dessas empresas ficam no meio do caminho “simplesmente” porque não validaram um problema real, ou seja, não dedicaram tempo e energia suficiente para conversar com possíveis clientes para entender o que eles querem de verdade. Uma ideia genial é somente uma concepção de algo novo baseada em achismos – e isso não manifesta as práticas atuais do mercado – muito menos o que esperam os clientes.
Portanto, caro leitor, espero que as percepções trazidas por essas linhas possam inspirá-lo a comunicar seus produtos e serviços de forma eficiente, considerando todo a força de uma criação, quando entendemos a importância de ouvir as pessoas e de se colocar no lugar delas. Garanto que os resultados serão muito mais valiosos e expressivos para você e para elas. Haja vista, a dimensão que A Song For Japan for capaz de alcançar! [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]