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Design não é opinião, é o que funciona.

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Jaider Morais

Fundador e colunista do Blog, atuo como Namer e Designer, que há 22 anos apoia e empodera empreendedores a ressignificarem suas marcas, tendo trabalhado em importantes projetos nacionais e internacionais, alcançando outros quatro continentes. Além disso, já empreendi como co-founder de aceleradora de startups, de estúdio de desenvolvimento web, plataforma de educação online e marca de HPPC

Opinião, nem sempre envolve conhecimento ou experiência, opinião é sentimento, enquanto design é ciência, é técnica, tem embasamento. O artigo poderia acabar aqui e o recado já estaria dado: Design não é opinião. Mas vamos continuar que tem muita coisa a ser dita sobre isso.

Eu ainda vou fazer uma camisa com essa frase: Design não é opinião, é o que funciona. É uma expressão que pode parecer grosseira, mas precisa ser dita.

Não trabalhamos com satisfação garantida.

Algo pouco comum de se lê por aí, né? Porque o que a gente costuma ver é exatamente o oposto: Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta (Deus me livre rs).

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Pode parecer arrogante da minha parte, mas é que um projeto de design, de fato, não pode se sustentar sobre a missão de alcançar a satisfação do dono do negócio. Garantir a satisfação do cliente é garantir que todas as vontades e desejos dele serão atendidas. Satisfação é sinônimo de prazer e não estamos aqui pra isso, infelizmente (ou felizmente).

O negócio do empreendedor tem personalidade própria e por isso precisa ter sua própria cara, mesmo que isso não agrade 100% seus donos. Mas antes de eu entrar nos detalhes e fazer você entender meu ponto de vista, vamos ver o que é opinião e porque design não é opinião.

O que é opinião?

Achei interessante que ao pesquisar sobre esse termo na Wikipédia, encontrei uma página com duas linhas de texto, bem objetivo e direto:

“Na Filosofia de Parmênides, opinião (doxa, (do grego δόξα, doxa, « opinião », « conjectura ») é a ideia confusa acerca da realidade e que se opõe ao conhecimento tido como verdadeiro.”

Opinião é a ideia confusa que se opõe ao conhecimento.

Nós, seres humanos, adoramos colocar nosso ponto de vista nas coisas, fazer nossas avaliações e julgamentos acerca de qualquer tema. Mesmo sobre aquilo que não temos a menor ideia de como funciona. Afinal de contas, é legal participar e ser relevante, né?

Para ver isso acontecendo, basta abrir o Facebook por 5 minutos e vai ver muita gente “comum” emitindo suas opiniões sobre política, vacina, leis, etc.

Eu tenho certeza que o mundo seria muito melhor se tivéssemos a humildade de dizer: “eu não vou opinar porque não entendo nada disso”. Isso não quer dizer que sou contra ao direito de expressão, mas é que ao se expressar de forma equivocada, influenciamos mais pessoas a pensarem assim e, particularmente, acho um grande desserviço.

Trazendo para a prestação de serviços, será que a gente se sentiria confiante em dar uma opinião sobre o procedimento de um médico ou de um mecânico ou de um engenheiro, não sendo de nenhuma dessas áreas? Talvez sim, rs, mas e se fosse sobre um procedimento no seu corpo, no seu carro ou na sua casa? Aí a coisa muda né?

Então porque no design seria diferente? Não é! Design não é opinião também.

O que é design?

Não serei pretensioso em achar que sou o dono da razão e que minha definição de design é a que deve ser 100% aceita. O que vou compartilhar é minha humilde percepção construída ao longo dos meus 20 anos de atuação.

Design é uma palavra em inglês, que traduzida para o português vira PROJETO. A concepção deste projeto, seja ele de um produto, um ambiente, uma marca ou uma peça gráfica, por exemplo, tem como objetivo solucionar um problema ou atender a uma necessidade real.

O foco do design, como muitos imaginam, não está na estética. Claro que ela é muito bem-vinda, mas a preocupação maior está na funcionalidade. Daí que vem o título desse artigo: Design não é opinião, é o que funciona.

Vamos imaginar que um designer foi contratado para criar uma inovadora cadeira de rodas que sobe escadas. O principal foco deste profissional é em quem vai usar essa cadeira e não em quem vai ver essa cadeira, muito menos em como o cliente que o contratou acha que ela deve ser. Afinal de contas, se ele soubesse como a cadeira deveria ser não precisaria ter contratado alguém pra isso. Simples assim!

O mesmo é para a criação do design de uma marca. O foco é criar algo que se comunique de forma eficiente com o público consumidor dessa marca. Não é simplesmente agradar os olhos. Não é sobre ser bonito ou feio, gostar ou não gostar, é o que funciona. Design não é opinião (não custa repetir).

O que mais mata projetos potenciais?

Uma das coisas que mais mata um projeto de design é o cliente avaliar o que foi pensado e criado para o seu negócio, como se fosse dele. Analisando pela própria ótica, ao invés de pela ótica da marca.

Parece louco isso, né? Pensar num negócio como se ele fosse um indivíduo, mas é assim que deve ser.

Não podemos jamais confundir o Sr. João, fundador e administrador da sua loja, com as características psicológicas que a própria loja precisa ter para se comunicar bem com seus clientes. A marca de um negócio tem personalidade própria, por mais que possamos achar que se pareça com as pessoas envolvidas.

Outra coisa que mata projetos de design (e essa é a mais grave de todas e a que tem maior chance de acertar o tiro fatal) é o empreendedor pedir opinião a pessoas que não participaram do processo (esposas, familiares, amigos, etc.)

Essas pessoas podem até ter a visão de dentro do negócio, mas não terão a visão de dentro do projeto e serão movidas apenas pela necessidade de expor suas opiniões, baseadas puramente em emoções. Qual a chance de isso dar certo? (responda você).

Em resumo: Um bom projeto de design, de identidade visual por exemplo, deve estar associado aos critérios, características e estratégias que forem mais relevantes para O NEGÓCIO, sempre!

Cases reais de clientes que entenderam isso:

Em minhas apresentações de identidade visual, existe um slide muito importante que aparece antes de eu mostrar o resultado gráfico do projeto. Neste slide está escrito: “Uma boa identidade visual não é sobre gostar ou não gostar de algo. É sobre o que funciona.” – Traduzindo: Design não é opinião.

Em minha trajetória existe N casos bem sucedidos desse entendimento, por parte do cliente e queria destacar dois deles:

Há pouco mais de 1 ano, eu estava apresentando um projeto de identidade visual de uma marca de suplementos alimentares, em uma reunião online e logo após eu terminar houve um silêncio total por alguns segundos e um pedido: Jaider, nos dê alguns minutos para conversarmos internamente.

Eu fiquei apreensivo e enquanto esperava ia pensando no que poderia ter errado e como poderia melhorar o projeto, até que o cliente volta depois de 45 minutos e diz: Olha Jaider, apresentamos internamente para toda a equipe e você acertou na mosca. O projeto que você nos apresentou foi tão fora do que esperávamos que ficamos impactados e por alguns segundos nos questionamos se gostamos ou não, mas o fato é que percebemos que era exatamente o que a nossa marca precisava.

Este cliente foi capaz de separar as impressões pessoais do negócio e o resultado foi sensacional!

Há pouco mais de um mês teve um caso semelhante, mas os 45 minutos para assimilar o resultado foi um pouco maior: uma semana pra ser mais preciso rs.

Depois de apresentar, o cliente sinalizou alguns pontos que poderiam estar incomodando e parte deles até me convenceu. Foi então que iniciei os estudos para buscar pequenos ajustes e eliminar os desconfortos que o design poderia estar causando.

Uma semana depois, ao apresentar os ajustes, o cliente disse que nesse tempo ele percebeu que a versão apresentada anteriormente era exatamente o que a marca precisava, mas que demoraram uma semana para ver isso.

O interessante desse segundo caso é que eu, depois de ter finalizado o design do logotipo, fiquei incomodado e precisei de dois dias para olhar e dizer: é isso! Eu fiquei incomodado também. Até eu preciso ter maturidade de separar meu olhar técnico do meu olhar sentimental.

Aquilo que funciona, pode incomodar.

Infelizmente nem todo mundo entende isso.

Nem sempre o empreendedor é capaz de separar isso e bate o pé querendo que sua opinião prevaleça sobre o que o negócio precisa. Meu papel é de tentar explicar e propor alternativas que não joguem contra a marca / negócio.

E em último caso, como já tive que fazer, descontinuei a parceria comercial e dei a liberdade ao cliente de executar com outro profissional.

Até o próximo artigo. 😘

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