O Audiovisual e sua relação com a saúde mental

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Mariana Preti

Mariana Preti

Fui uma criança escritora e através das palavras encontrei minha liberdade. Cineasta e atriz, formada em comunicação social com especialização em Direção, pesquiso o audiovisual e as novas mídias, o que me levou ao MBA em Marketing Digital e às suas múltiplas facetas neste universo de algoritmos e imagens numéricas.

Saúde mental: você sabe como o consumo excessivo de audiovisual pode ser prejudicial no seu dia a dia? 

Como está a sua saúde mental? Seu nível de ansiedade está saudável? Você se relaciona bem consigo mesmo? Sente-se, por vezes, num estado de depressão que não entende como surgiu? Por muito estas questões foram tabus, mas já há algum tempo, especialmente pelo excesso de consumo audiovisual, de estímulos externos e de informações deste século, elas têm sido mais abordadas e as pessoas tem começado a perceber um pouco mais a importância de olharem para dentro de si 9.

Uma das grandes consequências da pandemia de Covid-19, inclusive, ouso dizer que é a aproximação do ser humano de sua própria humanidade. 

E nesta aproximação o que se percebe é que a grande maioria das pessoas é ansiosa demais e/ou não tem um relacionamento muito íntimo com sua saúde emocional, e desta forma pouco ou nenhum controle sobre ela. 

De fato, a ansiedade é parte do que impulsiona o ser humano no seu dia a dia, sendo um estado natural em diversas espécies. 

Mas como tudo em excesso, provoca danos. Aliás, segundo relatório da OMS divulgado em março de 2019, o Brasil é o país com a maior quantidade de pessoas ansiosas no mundo. 

De acordo com a pesquisa, 9,3% da população brasileira – o que equivale a 18,6 milhões de pessoas – sofre com o transtorno de ansiedade. Em 2017 o Brasil também recebeu o título de país mais ansioso do mundo, segunda a Organização Mundial da Saúde. 

Mas por que somos um país de pessoas tão ansiosas?

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Arrisco supor que, na condição de seres humanos, ignorar a psique é o mesmo que ignorar a própria existência. 

E ignorando a construção de uma boa saúde mental, o ser humano deste século aprendeu a viver com o excesso de estímulos numa velocidade cada vez maior. Estímulos, estes, sempre mais potentes: do surgimento da imprensa até o streamming e o marketing em vídeo, parafraseando e adaptando o autor Doc Comparato, a humanidade piscou. 

Não à toa a geração Y, também chamada de Millennial, maior classe consumidora do mundo, é a mais afetada por todas as transformações tecnológicas das últimas décadas. 

Audiovisual: trazendo a psicanálise do cinema para 2020

Desde a invenção do cinematógrafo, do surgimento das primeiras estruturas narrativas cinematográficas e do início da relação entre o homem e a câmera, muitos estudiosos, dentre eles gosto de citar os renomados Christian Metz e Robert Stam, analisam as relações entre psicanálise e cinema

De acordo com Stam, o cinema nos atinge duplamente: estímulos visuais e auditivos extremamente intensos nos inundam, ao mesmo tempo em que estamos predispostos à recepção passiva e ao autocentramento narcísico

Em outras palavras, o cinema nos invade e nos transforma, sem que percebamos.

Com o tempo, a evolução das narrativas cinematográficas fez com que elas se tornassem mais complexas, e, obviamente, sua relação com o espectador também. 

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Com o surgimento da televisão e depois da internet, chegando à apoteose dos smartphones, o audiovisual passa a ter um papel muito maior e mais presente no cotidiano de todas as pessoas, assumindo tantos novos formatos e papéis, aliando-se indissociavelmente à tecnologias emergentes como big data e inteligência artificial, que o impacto destas transformações chegou a ser vertiginoso a nível social. 

Para a psicanálise, um dos elementos primordiais da sedução cinematográfica é o que Freud chamou de escopofilia: um impulso para transformar o outro no objeto de um olhar curioso

(Alguma semelhança com as redes sociais?)

E, acredite, não apenas Hollywood apostou na economia libidinal do cinema. Para Metz, do cinema advém duas máquinas: a primeira delas é o cinema enquanto indústria, que produz commodities, vende ingressos (no caso da TV gera audiência; no caso do streamming, vende fees) e oferece retorno de investimento; a segunda, uma máquina mental, em que os filmes são “bons objetos” prazerosos. 

Metz explica que a impressão de realidade no cinema é mais forte que no teatro porque as figuras fantasmagóricas da tela virtualmente nos convidam a nelas investirmos nossas fantasias e projeções

Quarta Parede: por que você precisa aprender a erguer a sua?

As relações entre recepção e percepção no teatro e no cinema se estendem profundamente, e a quarta parede, aquela invisível que se ergue sobre a ribalta e separa o teatro da vida real, é construída de maneira distinta em ambas as experiências. 

Contudo, quando se analisa a quantidade de formatos audiovisuais que estão presentes no nosso dia a dia, para muito além do cinema, percebe-se que o conceito de quarta parede se deve expandir e deve, assim como o consumo audiovisual o foi, ser incorporado ao cotidiano do ser humano. 

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Há uma eterna comparação entre cinema e sonho que destaca o potencial alienatório do cinema, bem como um impulso utópico de projeção e desejo voltados para o irreal ou para o hiper real naquele que o consome

Mas como o consumo audiovisual, para além do cinema tradicional, afeta sua saúde mental e se relaciona com a sua ansiedade hoje?

Num universo em que a realidade e a ficção estão cada vez mais interligadas pelo audiovisual, com a popularização da realidade aumentada e o fortalecimento histórico de técnicas de marketing como Storytelling, dentre outras; e com a associação ao uso das ciências de dados e inteligência artificial, a quarta parede está cada vez mais invisível, sendo fácil e comumente ignorada, transformando a tênue linha que divide a realidade da ficção e afetando os produtores e consumidores de conteúdo audiovisual de forma ímpar. 

digital influencer trabalha incansavelmente para criar e atingir seu público alvo e utiliza uma série de ferramentas para, por meio do audiovisual, engajar-se e conquistar a atenção de seu público. 

Cria seu storytelling minuciosamente, mesmo aqueles que não o fazem de forma profissional, o fazem; seus posts são minuciosamente pensados para apresentar o recorte que melhor lhe atende; cria sua comunidade, para a qual é, de fato, alguém que influencia, que dita comportamentos, regras, tendências e, claro, desejos

Em 2020, vivemos numa sociedade em que a realidade se mistura com a construção de uma realidade utópica: os objetos de desejo e de curiosidade não estão mais apenas no cinema de ficção, mas no seu celular fazendo parte da sua vida real todos os dias. 

Audiovisual: analise seu consumo para preservar sua saúde mental

7000 a.C., a humanidade descobre o fogo. 

3500 a.C, a humanidade descobre a roda. 

3300 a.C: datação dos primeiros registros históricos de escrita feitos pela humanidade, na antiga Mesopotâmia, atual Iraque. 

1455 d.C: Johannes Gensfleish, conhecido como Gutenberg, inventa sua famosa prensa: nasce a imprensa

E, depois disso, o mundo nunca mais foi o mesmo. 

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Jovens da geração Y, os chamados Millennials, presenciaram o período em que mais houve transformações no menor espaço de tempo da história da humanidade

Do disco de vinil, passando pelas fitas – cassete e VHS, depois CDs, DVDs, bluray até ao streamming, passaram-se em média 30 anos. 

Neste período, a internet chegou ao uso popular, primeiro discada, lenta, nebulosa e ocupando a linha de telefone; depois a cabo, 3, 4, 4.5G, wi-fi, fibra óptica, até a iminência do 5G, que promete mudar ainda mais radicalmente as relações entre homem e máquina. 

Hoje, num universo em que há mais máquinas conectadas entre si através da internet do que pessoas – e éramos, em 2018, 3,9 bilhões de pessoas conectadas à internet, segundo a ONU – a iminência do 5G promete popularizar ainda mais a Internet das Coisas e transformar o mundo em que vivemos numa versão ainda mais próxima do que os Jetsons anunciavam

Mas embora a animação tenha acertado em cheio ao criar, ainda nos anos 60, a vídeo-aula, as TVs fininhas, os robôs assistentes, não chegou a prever 

Eu poderia seguir citando aqui uma série de transformações sócio-culturais que a humanidade sofreu nos últimos 30, 40 anos e certamente muitas delas nos passam despercebidas no dia a dia. 

Uma grande transformação, contudo, é notória e basta olhar com um pouco de atenção para a interface que nos permite nos comunicarmos para que cheguemos a ela: o processamento de dados

De fato, ouso dizer que a maior transformação da vida após o boom da internet foi a popularização do audiovisual através do processamento de dados, tanto sua produção quanto seu consumo

De repente, o audiovisual não vem mais dos filmes mas do processamento de imagens, das placas de vídeo. 

E, com isto, a maneira com que os seres humanos se relacionam uns com os outros e consigo mesmos mudou radical e vertiginosamente. 

Sim, o audiovisual impacta diretamente não só a sua maneira de se relacionar com o outro mas, principalmente, a sua maneira de se relacionar você mesmo

Como o Audiovisual influencia a sua vida?

Desde o meu trabalho de conclusão de curso na faculdade estudo as relações entre memória e cinema, e acreditem: nosso cérebro se conecta com a linguagem audiovisual tradicional por questões científicas

Uri Hasson, professor de psicologia da Universidade de Princeton, inclusive, criou o termo acoplamento cérebro a cérebro para descrever como a contação de histórias sincroniza o cérebro do ouvinte ao do narrador. 

Hasson descobriu, em sua pesquisa, que a contação de histórias tem o poder de acionar atividades cerebrais nos ouvintes nas mesmas regiões que são ativadas no cérebro de quem conta a história. 

Ou seja: é científica a resposta do porque nos sentimos tão conectados vendo um filme ou lendo um livro que chegamos a chorar, a sorrir, ou mesmo a sentir tesão.

Ora, se nosso cérebro se acopla ao cérebro de quem está contando uma história, o que será que ocorre quando estamos assistindo um filme? 

O estudo da psicanálise do cinema nos dá muitas destas respostas, mas e quanto aos demais formatos audiovisuais? 

O que será que ocorre quando estamos vendo um reality? Ou vendo uma reportagem?

O que será que ocorre quando estamos, diariamente, assistindo os stories no Instagram?

Poderíamos aqui, inclusive, entrar no mérito da criação de stories versus histórias no Instagram, afinal, por mais que seu influencer favorito pareça ser uma pessoa muito real e simples, que passa sua verdade, não podemos esquecer que tudo o que ele mostra é um recorte. Escolhido meticulosamente.

Afinal, todo e qualquer produto audiovisual que você consome advém de um recorte. Seja do diretor, do jornalista, do programador, do designer, ou do dono do celular. 

Mas vamos nos ater ao mérito do consumo

Então, voltando a pergunta, o que será que ocorre com o seu cérebro ao consumir tantos formatos de audiovisual no seu dia a dia?

Ele absorve informações a níveis sensoriais. 

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O cérebro humano é composto por 86 bilhões de neurônios, e cerca de um quatrilhão de sinapses. Em média, as informações, em geral, são transmitidas pelos nossos neurônios a uma velocidade de 360km por hora

Mas não é apenas o que nossos 5 sentidos tradicionais captam que influenciam nosso cérebro – haja vista a quantidade de estudos sobre sensorialidade que existem em meio às pesquisas audiovisuais e da antropologia teatral. 

Além do olfato, da visão, do tato, do paladar e da audição, o corpo humano responde a uma séries de outras sensações provocadas pelo meio externo, ou seja: responde através de outros canais a tudo aquilo a que é exposto. 

Normalmente consideramos apenas estes 5 sentidos e nos esquecemos:

  • da atenção, que determina quanto de dada informação vamos absorver; 
  • da memória, que determina quanto da informação vamos armazenar – e ainda aqui temos a seletividade da memória, que não conseguimos controlar; 
  • da linguagem, que determina a representação da informação que estamos consumindo e como ela vai nos afetar.

Por isso, de forma geral, o audiovisual que consumimos impacta muito mais nosso dia a dia do que, em nossa pressa, permitimo-nos perceber, à medida em que atinge nosso subconsciente de forma displicente. 

Consumo audiovisual e excesso de informações

O audiovisual é uma das maiores descobertas da humanidade. Nos transporta para outros mundos, aproxima-nos de quem amamos, apresenta-nos o novo, o impossível. É caminho, é chegada. 

Sou uma apaixonada pelo audiovisual, e justamente por viver neste universo toda a minha vida sei do seu poder imenso em edificar mas também em destruir

O consumo audiovisual é edificante na medida em que nos distrai, inspira-nos, ensina-nos, proporciona-nos momentos de prazer

Mas é destrutivo na medida em que nos vicia, cega-nos, impede-nos de pensar por conta própria, aplicando sobre nós suas propriedades alienatórias.

E aqui não me refiro apenas ao jovens gamers que passam dias em frente uma interface se esquecendo do mundo físico a sua volta, não. 

Refiro-me àqueles que acordam com o celular na mão, vigiando fóruns de promoção, notificações em seus canais favoritos, mensagens em grupos de whatsapp, stories novos no Instagram, vendo vídeos no Tik-tok…

Afinal, o audiovisual, há muito, não está apenas nas novelas, nos filmes, nos games e nos clipes

O audiovisual é o seu celular e está, em grande escala, presente nas informações que chegam e saem dele. 

O audiovisual leva para dentro da sua vida a inteligência artificial que capta seus dados pessoais e os fornece para grandes corporações que vão produzir um marketing pensado estrategicamente para você, por exemplo. 

O audiovisual leva a inteligência artificial que vai fazer você dar likes em vídeos e vai ajudar a educar os algoritmos que vão te induzir a consumir conteúdo; ou que vão te sugerir filmes na Netflix e, ao mesmo tempo, analisar suas escolhas para lucrar com base no mapeamento do seu perfil, produzindo conteúdo para te influenciar a consumir ainda mais

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O audiovisual leva até você a inteligência artificial com quem você vai conversar e que vai te permitir usar o caminho mais rápido para chegar em casa através do Waze ou do Google Now mas vai, ao mesmo tempo, fornecer seus padrões de comportamento e consumo para grandes empresas que vão decifrar o amontoado de dados que a humanidade gera, o big data, transformando-o em informações preciosas de marketing e em estratégias de desenvolvimento de produtos

Através do audiovisual, grandes empresas fazem parte da sua vida captando informações sobre você sob a bandeira de aprimorar a experiência do usuário, mas, de fato, elas estão aprimorando o aprendizado de máquina e utilizando estas informações para produzirem e venderem mais no mercado de nicho. 

E você faz parte dos nichos de várias empresas. 

Mas a questão dos seus dados pessoais é apenas uma das que envolvem o consumo exacerbado de produtos audiovisuais

Eu quero chamar sua atenção para um ponto que é ainda menos discutido do que a privacidade dos seus dados pessoais: a construção da sua própria personalidade e do seu senso crítico. 

Afinal, o que será que acontece com seu cérebro quando você já acorda consumindo informações em grupos de whatsapp, stories de Facebook ou Instagram, vendo jornais e vídeos no Youtube, filmes e séries, jogos e por que não memes?

Um exemplo claro do potencial alienatório do audiovisual é a indústria pornográfica, que durante décadas tem imposto padrões irreais de comportamento e construindo a sexualidade dos homens desde muito jovens, transformando a sexualidade da mulher num produto mercadológico. 

Quanto disto tudo que você consome é realmente saudável para seu cérebro? 

Quando você lê um livro, seu cérebro tem muito mais tempo para assimilar as informações que você vai lendo; sua atenção tem que estar focada no que você está lendo para que sua imaginação siga a linearidade da leitura, desenvolva cenários, acompanhe o encadeamento de ideias, busque conceitos previamente internalizados para que compreenda conceitos que estão sendo descritos para você através do uso de palavras que te evocam significados

Quando você consome um produto audiovisual, a velocidade de apreensão do conteúdo é tamanha, bem como a quantidade de informações e estímulos, que ele impacta seu subconsciente de maneira muito mais agressiva que a literatura. 

Por isso, enquanto profissional que estuda o universo audiovisual há dez anos, eu me pergunto como é possível que o ser humano tenha tanta preocupação com dietas e alimentação saudável para nutrir seu corpo e mantê-lo saudável, livre de doenças, sobrepeso e mesmo adequado a padrões de beleza impostos pela sociedade; mas, ao mesmo tempo, se preocupe tão pouco com aquilo com que alimenta seu cérebro, com aquilo que nutre sua mente, que dialoga com seu estado emocional e, consequentemente, com aquilo que constrói seu senso crítico.

Afinal, se você sabe tão pouco sobre o quanto o audiovisual influencia seu dia a dia, sua assimilação de ideias, suas tomadas de decisões, como vai perceber, de fato, que o seu consumo audiovisual pode estar influenciado seus distúrbios psicossomáticos, sua dependência química, seu comportamento social, sua relação consigo mesmo?

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Portanto, uma dica para que você possa viver num universo audiovisual com menos ansiedade e cobranças é prestar muita atenção ao que você escolhe consumir, bem como diminuir o consumo exacerbado de produtos audiovisuais e tentar desenvolver algum hábito de leitura, algum tipo de meditação, terapia alternativa ou mesmo a escrita

Ou seja: dar atenção, sem pressa, ao seu eu interior.

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