Pensar em um nome de marca assertivo e eficiente para um negócio, produto ou serviço, não é uma tarefa fácil. Exige foco, dedicação e alguma boas dezenas de horas, entre entendimento do contexto da marca, pesquisas e ideação.
Nesse artigo vou te ajudar nessa tarefa, contando um pouco do meu processo para projetos de naming e as melhores práticas que uso para encontrar um nome de marca que faça sentido e, o mais importante, que se conecte com o público certo.
Pegue sua caneca de café, lápis e papel e venha comigo.
Sobre o Nome de Marca
É certo afirmar que o nome de marca é o principal elemento de identificação de um negócio, mas isso não quer dizer que esse nome tem a missão de deixar claro qual segmento a empresa pertence ou que tipo de serviços/produtos ela oferece. Porque se fosse assim não teríamos Google, Apple, Aribnb, Uber, Nike, etc. Seria tudo como: Buscador Web, Tech Devices, Hospedagens Acessíveis, Transporte Fácil ou Vestuários Esportivos.
Eu costumo dizer para meus clientes que o nome de marca é apenas o título de uma história. Ele precisa, claro, ter conexão com o negócio, mas só ganhará sentido e espaço nas lembranças do consumidor ao longo do tempo, com a construção dessa história. Até lá, será apenas uma palavra desconhecida e até estranha, como a maioria dos grandes nomes que mencionei.
Quando for pensar em um nome para sua empresa, produto ou serviço:
- não subestime a inteligência do seu público, querendo encontrar algo autoexplicativo e óbvio demais;
- não tente achar algo perfeito ou que te cause amor à primeira vista;
- lembre-se que a marca não é o nome, marca é experiência;
- busque algo que envolva e desperte a imaginação;
- foque naquilo que seja inovador e atual;
- priorize uma fonética de fácil pronúncia;
- tenha cuidado para não limitar o crescimento do negócio;
Lembre-se que o nome de marca será o ponto de contato mais presente com seu cliente, muito mais que a identidade visual. Imagine o “boca a boca” ou uma conversa telefônica, por exemplo.
O nome, ao contrário de outros elementos da marca e até mesmo da identidade visual, não pode ser modificado ou adaptado ao logo do tempo. Mudar a identificação fonética de um negócio exige muito esforço e investimento em comunicação. Por isso essa tarefa deve ser levada tão a sério.
Agora, vamos para os 6 passos que eu preparei para te ajudar na construção de um bom nome de marca.
Passo 1 – Conheça muito bem o negócio e o mercado que ele está inserido
Antes de qualquer coisa, você precisa entender muito bem quem é a marca, mesmo antes dela ter o nome. Você precisa ter um Briefing.
Pense que você precisa de respostas para as seguintes perguntas:
- De que se trata o negócio?
- Qual o mix de produtos/serviços ele vai oferecer? — Se for um produto, quais os benefícios ou problemas que ele vai resolver?
- Por que será essencial para o cliente ou porque o cliente vai escolher esse negócio e não o do concorrente?
- Quais os aspectos intangíveis a marca oferecerá? Exemplo: segurança, tranquilidade, adrenalina, motivação, diversão, etc.
- Quem são os concorrentes? Quais seus diferenciais, pontos fortes e fracos?
- Quem é o público? Sexo, faixa etária, poder de compra, hábitos, etc?
- Qual a visão do negócio para os próximos 5 ou 10 anos?
- Qual a ÚNICA palavra-chave que resume a marca?
E o mais importante:
Como a marca deve ser percebida e como ela não deve ser percebida?
Você precisa ter claro quais sentimentos a marca deve despertar no outro e quais ela NÃO deve.
Exemplo:
Uma marca X deve ser percebida como séria, jovem, inteligente, sofisticada, amigável, etc. Ela não pode ser percebida como divertida, descolada, informal, agressiva, etc.
Isso tudo vai direcionar você a um nome de marca mais assertivo.
Veja um exemplo de como um nome pode transmitir sentimentos em nós, analisando a seguinte questão:
Qual dos nomes a seguir te parece mais amigável, divertido, descontraído e jovem?
A – Imaculatum
B – DingDong
C – Perppe
Responda essa nos comentários! 😄
Passo 2 – Se aproxime do projeto de naming, mas se distancie do negócio
Esse título parece meio contraditório, mas é isso mesmo. Abrace o projeto de naming e principalmente os dados obtidos no Briefing, mas se distancie ao máximo do negócio, principalmente se ele for seu.
Criar uma distância do negócio vai te permitir olhar o todo e o mais importante: vai te livrar de emoções que podem (e vão) atrapalhar no processo e na busca pelo nome de marca certo.
Infelizmente, nós somos ótimos em autocobrança e autocensura e isso gera grandes dificuldades no processo, principalmente porque o tempo todo julgaremos se o que estamos fazendo é bom ou não, e esse pensamento não é bem-vindo no processo de ideação e brainstorming.
Por isso é tão importante se afastar do negócio ao ponto de sentir como se você não se importasse com o resultado.
Pense que você pode estar no caminho certo, mas um questionamento prematuro pode te levar para outra direção, te afastando do bom resultado que você alcançaria.
Haverá a hora certa para ser criterioso nesse processo, continue lendo que vou te contar.
Passo 3 – Não comece procurando um nome e sim palavras-chave
É muito comum, até pela ansiedade de conhecer logo o resultado, a gente querer começar o processo buscando o nome, mas isso pode nos limitar a palavras óbvias e pouco inovadoras.
O segredo aqui é elencar contextos que tem a ver com a marca e definir os territórios criativos. Quanto mais fundo você cavar em cada um desses territórios, mais inovador pode ser o nome que você vai encontrar.
Vamos exemplificar com uma marca fictícia de uma cafeteria com espaço para trabalho e reuniões, que deseja ser percebida como um ambiente descontraído e aconchegante.
Para esse caso, podemos listar os seguintes contextos: café, coworking e segunda casa. Agora a missão é caçar palavras-chave dentro desses temas.
Uma dica é consumir vídeos e ler artigos, matérias e notícias sobre esses assuntos, anotando todas as palavras, sem nenhum tipo de julgamentos. Eu gosto muito de caçar essas palavras na Wikipedia. 😊
Exemplos de palavras que você pode listar, considerando o contexto do nosso exemplo: café, cafeína, energia, concentração, criatividade, colaboração, work, office, computador, internet, conversas, bem-estar, conforto, à vontade etc.
Comece essa caçada com uma meta de escrever no mínimo 50 a 100 palavras.
Passo 4 – Crie uma lista longa: Hora de gerar alternativas
Brinque com as palavras-chaves que encontrou, sem qualquer tipo de julgamento.
Agora é a hora de explorar o potencial de cada palavra-chave, buscando expressões, digamos mais únicas e originais. Você pode brincar com os significados, sinônimos, fonéticas, etimologias, traduções para diversos idiomas, palavras relacionadas, onomatopeias, metáforas, referências históricas e/ou mitológicas etc.
Veja alguns sites que podem te ajudar na obtenção desses dados: Dicionário Criativo, Dicionário Informal, Origem das Palavras, Educalingo, Smodin.
Lembre-se: não é hora de nenhum tipo de censura, escreva qualquer coisa, mesmo que você tenha certeza de que é um nome ruim, porque tudo vai servir de inspiração para novas possibilidades e, quem sabe, até o seu nome de marca ideal, depois dos próximos passos que vou te dar.
Ainda sobre brincar com as palavras, podemos lançar mão de algumas técnicas e encontrar nomes realmente inovadores. São elas:
Derivação
Formação de uma nova palavra a partir de uma única palavra, acrescentando um prefixo e/ou sufixo ou cortando partes, formando uma nova palavra com significação própria.
Exemplos: Cafezal (café), energizar (energia), internê (internet), ação (colaboração), etc.
Composição
Formação de uma nova palavra a partir da junção de duas ou mais, formando palavras compostas com significação própria.
Exemplos: Cafeína Office, Energia Criativa etc.
Combinação
Formação de uma nova palavra através da junção de partes de outras palavras.
Exemplos: Workoffe (Work + Coffee), ColabOffice (Colaboração + Office), etc.
Siglas e Acrônimos
Abreviações formadas por um conjunto de letras das iniciais ou pedaços de palavras, que podem ser lidas de forma independente.
Exemplos: CEW (iniciais de Creativity + Energy + Work), Co-criafé (Colaboração + Criatividade + Café), etc.
Reescrita
Alteração da estrutura de uma palavra existente ou representação da fonética. Funciona muito bem com palavras em outros idiomas.
Exemplos:
Concenttra (de concentração);
Enerdii (pronúncia de “Energia” em inglês – Energy);
Duzin-Mizun (pronúncia de “Segunda Casa” em Francês – Deuxième Maison) — Daria para brincar ainda mais com essa pronúncia, como ZinZun, por exemplo, onde usei a combinação por cima da reescrita.
Nesse exercício com as palavras podemos encontrar expressões existentes ou novas, como você viu nos exemplos acima. Se desafie a construir uma lista bem grande, com dezenas de ideias, porque na etapa seguinte muitas delas serão excluídas.
Observe que eu brinquei, nos exemplos desse tópico, com 5 ou 6 palavras do tópico anterior, imagina como seria com 50 ou 100. Quanto mais palavras você conseguir caçar, mais insumos terá para essa etapa de geração de alternativas.
Passo 5 – Defina a lista curta: Selecione apenas os melhores e descarte o resto
Nesse momento você precisa ser extremamente criterioso e riscar da sua lista tudo que possa ser negativo para um bom nome de marca.
Considere os seguintes atributos para decidir se uma alternativa deve ser descartada ou não:
- Facilidade de Escrita: deve ser simples e intuitivo o suficiente para que qualquer pessoa possa escrever. Não há problema se você tiver que soletrar o nome uma ou duas vezes para que a pessoa aprenda, mas analise bem para ter certeza de que não passará disso;
- Leitura e fonética agradáveis: a leitura deve ser confortável e fácil de lembrar, ainda mais se a palavra não for familiar. Em geral, nomes curtos com até 3 sílabas funcionam melhor, mas isso não é uma regra. Cuidado também com trava línguas e palavras cacofônicas;
- Associações não negativas: esse ponto é bem importante. Leia em voz alta pra ver se não te remete a alguma palavra que possa ser pejorativa para a marca, pesquise no Google Tradutor pra ver se não tem algum significado negativo em outro idioma e leia de traz pra frente. Parece exagerado esse último ponto, mas o seu cliente pode tirar uma selfie espelhada com o logotipo numa parede atrás, por exemplo.
É desejável que você saia essa etapa com, pelo menos uns 10 a 15 nomes, porque na etapa seguinte alguns vão ser inviabilizados por questões mais técnicas.
Passo 6 – Consulte a disponibilidade de registro de marca no INPI, domínios e redes sociais
Infelizmente é uma prática comum não registrar a marca, mas o que poucos sabem é que mesmo que um negócio tenha 10, 20 ou 30 anos, a marca não é do empreendedor até que ele registre.
Uma empresa pode surgir anos depois, registrar primeiro e ainda forçar juridicamente a empresa mais antiga a mudar o nome. Pensa no desgaste emocional, financeiro e para a marca.
Então, para evitar uma dor de cabeça futura, antes de considerar o nome, faça uma pesquisa prévia de disponibilidade para registro de marca no INPI. Pode ser feita por você mesmo, mas eu sugiro fortemente que busque um parceiro especializado em registros de marcas. Eles dispõem de ferramentas que retornam pesquisas muito mais ricas e até com variações de fonéticas similares.
Outro ponto é que tem informações técnicas como qual classe ou classes a marca deve ser enquadrada. Vai por mim, é mais seguro terceirizar essa parte, que geralmente não é cobrada se você se comprometer a fazer o registro depois com esse parceiro.
Ah, importante dizer que essa pesquisa não é 100% garantida, o que ela faz é verificar se não há processos em aberto ou marcas coincidentes registradas, no entanto, no processo de registro futuro, avaliado por um ser humano, muita coisa pode mudar. Digamos que reduz a chance de indeferimento em mais de 90%.
Essa primeira pesquisa vai eliminar boa parte dos nomes e com os que restarem, você pode fazer as pesquisas mais triviais, como domínio de sites .com.br e outros nacionais (registro.br), domínios .com e outros internacionais (domains.google.com), redes sociais e diversos serviços web (instantusername.com).
Não desanime se não tiver o domínio de site ou redes sociais com o nome de marca exato, infelizmente não há critérios para registro dessas contas e qualquer pessoa pode reservar um nome e nunca publicar nada nele. Você pode resolver isso usando prefixos ou sufixos no nome para criar um @ único, como @go.workoffe ou @co.energiacriativa, por exemplo.
Agora, se você estiver fazendo isso para um cliente, é hora de criar uma bela apresentação e explicar a história por trás de cada sugestão de nome. Eu sugiro levar de 3 a 5 nomes para o cliente escolher.
Espero que esse artigo tenha aberto sua mente sobre Nome de Marca. Até o próximo 🙂